terça-feira, 31 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

"Não sei falar direito..."

Saudações a quem possivelmente acompanha (?) este blog!
Depois de longos três meses sem postar mais nada, eis que retorno!

O que me inspirou a escrever dessa vez foi um clipe da trupe O Teatro Mágico, a música se chama "Zaluzejo" e fala sobre o preconceito com as pessoas que falam "errado", aliás ela é toda escrita de forma "errada", uma sacada inteligentíssima do compositor Fernando Anitelli.
Mas esse foi apenas um pretexto pra que eu pudesse perguntar: O que é falar errado? O que é o certo?
Em um país onde um em cada dez brasileiros com mais de 15 anos de idade ainda não sabe ler nem escrever é quase inadmissível que seja estabelecida um norma culta da língua portuguesa e ainda exigido que ela seja seguida. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais de 14 milhões de brasileiros são analfabetos, ou seja, incapazes de ler e escrever um bilhete simples na língua materna. Além do mais aqueles que frequentam os bancos escolares recebem um ensino que é cercado por um "mito" : acreditar que nossa língua é única, que nesse Brasilzão falamos todos de forma igual . Professores não consideram as variedades linguísticas e alunos que falam "errado" sofrem constrangimentos na sala de aula. Nessa lógica tudo que foge à norma culta está errado. Por exemplo, dizer pranta, ao invés de planta, é incorreto, mas uma análise da origem da palavra observa-se que palavras com r, como brando, cravo, prazer, apresentavam l no latim: blandu-, clavu-, placere-. Portanto o "erro" ocorre devido a alguns falantes privilegiarem uma tendência que se tinha antigamente: o rotacismo, comum em textos medievais.
O escritor, linguista e professor Marcos Bagno tem sido conhecido por sua luta contra a discriminação social por meio da linguagem. Para ele, "o preconceito linguístico precisa ser reconhecido, denunciado e combatido, porque é uma das formas mais sutis e perversas de exclusão social". Segundo Bagno a noção de erro linguístico nasceu num período conhecido como helenístico. Foi o período em que Alexandre conquistou um vasto território, e com a difusão da língua e cultura gregas, foi-se necessário normatizar essa língua para que se tornasse um instrumento de unificação política e cultural. Para isso, recorreu aos filólogos – amantes da palavra – sábios que trabalhavam na Biblioteca de Alexandria.
Marcos explica em um de seus textos que impossível negar que nossa sociedade é profundamente hierarquizada onde todos os valores culturais e simbólicos que nela circulam são dispostos em categorias hierárquicas que vão do "bom" ao "ruim", do "certo" ao "errado", do "feio" ao "bonito"... Mas entre esses valores culturais e simbólicos está a língua, e por mais que os linguistas rejeitem a norma-padrão tradicional, por não corresponder às realidades de uso da língua, é impossível desprezar o fato de que, como bem simbólico, existe uma demanda social por essa "língua certa". Segundo ele uma opção seria oferecer aos alunos a opção de "traduzir" seus enunciados para a forma "culta", para que eles se conscientizem da existência dessas regras.
"O que não podemos é negar a ele o conhecimento de todas as opções possíveis" ressalta o linguista.
Para tudo isso acontecer é necessário um esforço dos profissionais educadores para reconhecer os fenômenos linguísticos que ocorrem dentro da sala de aula, para que ocorra um aprendizado ampliado por todo o saber linguístico de cada aluno. É preciso empreender e apoiar a construção de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democráticas e não-discriminadoras.
Eu concordo com Bagno e estou com Anitelli que na música do Teatro Mágico diz: "Mas quando alguém te disser ta errado ou errada; Que não vai S na cebola e não vai S em feliz; Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X; Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz".
E ainda tem a reforma linguista, mas isso é história pra outro dia...


Agora aproveite pra curtir a música!
Beijo,
Gabi.